quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

# 12 Enviei um mail para a autora do blog "Cócó na fralda"

Fui desafiada pela minha irmã enviar um email para responder a esta solicitação:

http://coconafralda.blogspot.com/2010/12/precisava-faxavore.html

Após pensar se seria capaz de estar à altura do desafio, resolvi que tinha obrigação de contar a minha história. Ainda hoje me pergunto se será inspiradora. Espero que sim...

"Hoje, sentada no meu novo escritório, liguei a net, abri o email e tinha uma mensagem da minha irmã (leitora assídua do coco na fralda):
“Não queres mandar um mail?”
Já há muito tempo que desejava dar o meu testemunho e dizer: eu fui capaz de mudar de vida!
Um dia percebi que estava farta da minha vida. Sempre tive a convicção que se acreditarmos muito em alguma coisa ela acaba inevitavelmente por acontecer. Sempre tive a certeza que somos nós que criamos todas as situações da nossa vida. Pensava constantemente na razão pela qual teria deixado a minha vida chegar a tal ponto, Queria mudar, queria deixar de sentir culpa por ter um bom emprego e mesmo assim ser infeliz. Queria ter coragem de me vir embora, sem ter medo…
Trabalhava há alguns anos na indústria farmacêutica, tinha um trabalho exigente (típico de uma multinacional), fazia milhões de apresentações, passava mil horas em reunião, que se diziam, importantes, ganhava bem, tinha um bom seguro de saúde, era pressionada constantemente para “dar” mais, mas também me divertia em dia como “dia da comunidade”, “blue jeans day”, “summer day”... Fui feliz durante algum tempo.
Mas a minha felicidade não durou muito tempo. Comecei a perceber que por mais que ganhasse não deixava de sentir uma certa angústia ao domingo. Sabia que naquela empresa não era ninguém, não passava do número de empregado X que ganha Y. É pouco para quem um dia desejou tanto. É assim que as multinacionais nos tratam. Chefes, directores fantásticos, que nos dizem que somos brilhantes, que nos dão tarefas importantes e cheias de responsabilidade embrulhadas em conversa motivadora: “Tu és fantásticas, confiamos em ti” Mas percebemos rapidamente que não passam de palavras decoradas naqueles workshops de motivação pessoal e que as tais tarefas tão exigentes são só para nos testar, nos levar ao limite. E pior, normalmente chegam-nos à mão, simplesmente, porque alguém não as quis fazer. Somos descartáveis e substituíveis (mesmo que normalmente nos queiram convencer do contrario)
A minha angústia durou meses, a sensação que não me podia despedir porque tinha sorte de ter emprego, tinha a sorte de ter ordenado ao fim do mês... Mas um dia decidi que tinha de mudar de vida, que não queria ser infeliz, estava disposta a tudo. Não nos podemos esconder atrás da nossa própria sorte, não nos podemos sentar confortavelmente numa vida sem interesse, não nos podemos comparar com os outros, porque estamos longe de ser como os que estão à nossa volta. Queria não ter medo, quis ser livre e percebi que ainda ia a tempo…Mas acredito que quando mudamos para melhor vamos sempre a tempo.
Um dia um amigo de longa data, e também meu colega de trabalho, falou-me na ideia de abrir uma creche no Parque das Nações. Os meus olhos brilharam. Era mesmo isso, estava ali a possibilidade de concretizar um sonho de ter um negócio meu. Tive medo? Sim…muito! Passei muitas noites sem dormir, pedi dinheiro, muito dinheiro emprestado, acordei muitas vezes a pensar se estaria a fazer a escolha certa. Aprendi a não ter medo das dívidas, aprendi a viver sem medo do dinheiro (ou da falta dele) e a ser feliz. Aprendi que a “sorte” não é mais que a convicção que podemos ter e ser quem quisermos e que o “azar” não é mais que a nossa resignação.
O nosso entusiasmo tomou novas proporções, tivemos muitas conversas rápidas das escadas da empresa, ponderamos vezes sem conta se estaríamos a tomar as decisões certas, fizemos planos de negócio detalhados, análises SWOT, planos de comunicação, avaliámos todas as situações, investigámos sobre o negócio, procurámos pessoas que nos dessem know-how na área, avaliámos a concorrência… mas em momento nenhum desistimos. Tínhamos dúvidas normais de dois jovens, da área de gestão, que se despedem de um emprego confortável e arriscam num negócio que não lhes é familiar.
Passado um mês já estávamos a trabalhar no projecto, passados dois meses abrimos a empresa, passados cinco despedimo-nos e passado um ano, desde do dia em que pensámos na ideia, abrimos portas da Creche&Aparece.
Hoje, após 3 meses da inauguração, já nem me lembro da minha antiga vida. Já não me lembro de ver o ordenado certo a entrar na conta, nem me lembro do tempo em que gastava dinheiro para apagar a dor que sentia. Já nem me lembro de ter stress, prazos para cumprir, de ficar calada porque ninguém me queria ouvir. Hoje sou mais feliz, mas completa, porque sei que faço tudo com prazer, que trabalho para fazer algo melhor, que me empenho para ter um serviço de excelência. Tenho um negócio em pleno crescimento, onde estamos certos que a qualidade nos garante o sucesso…factores que nos fazem não ter medo da crise.

Obrigada

Mariana Gil
http://www.creche-e-aparece.com/"